segunda-feira, julho 23, 2007

soneto.pt

eu queria cantar, após camões
a triste redondilha de olhos verdes
mas não pasto doçura. não me perdes
secando eu tão torpoes ambições.

não me atirei ao poço dos leões
mas tive de cortar por outras redes
outras cidades, outras internetes
- problemas verdes, da cor dos limões?

debaixo do bulcão eu me condeno
à chuva morna deste esquecimento:
perder-me no verão, voltar de inverno

rasgar na primavera novo alento.
assim consumo tempo. vento interno
ou fábula, cigarro e fingimento?


(Este é o primeiro poema
escrito por Affonso Gallo,
e foi publicado
na edição número quatro
de Debaixo do Bulcão poezine,
em Julho de mil novecentos
e noventa e sete.)

sexta-feira, julho 06, 2007

Declaração de princípios em rimas apenas toantes

e eis-me então usando e abusando
de glosas com que sempre ando gozando
alguma coisa (nem que seja eu próprio
que em coisa me transformo quando escrevo:
brinquedo de algum mais esquizofrénico
grupo exibicionista de neurónios).

de isso não me contento nem espanto
embora tenha sempre assim um tanto
(como direi?) urinol oratório
ou um monte de esterco em que me enterro
tentando no entanto ser higiénico
enquanto me aconchego entre fólios.