quinta-feira, setembro 06, 2007

Ai ai é assim a vida de artista...

um certo grupo de teatro airoso
(porém um pouco ousado e provocante
como convém a quem não é piroso)
foi actuar à festa do avante.
e porque era teatro mas de rua
predispôs-se a actuar à luz da lua.

mas nessa noite o astro curioso
que é da noite a bola mais brilhante
não brilhava, porque caiu um grosso
fartote de água e um trovejante
bramido avassalou todo o recinto:
ficou tudo ensopado como um pinto.

acontece que o grupo era de almada
e os almadenses são bem persistentes:
“isto é uma chuvinha, não é nada”
(dizia o encenador por entre os dentes).
e logo fez questão de anunciar
que a actuação não iria parar.

e assim dois dos actores amadores
ficaram com uma gripe das valentes
e três outros andam cheios de dores
nas articulações (e outro nos dentes).
fizeram o que tinham a fazer
(e entretanto parou de chover).

os poucos que do público ficaram
à récita atentos (e molhados)
muito se admiraram e louvaram
o empenho de artistas tão esforçados:
oh gente forte e de altos pensamentos
que até dela hão medo os elementos.


(Este poema é uma ficção baseada em factos reais, ocorridos com um grupo de recitadores do Debaixo do Bulcão, na Festa do Avante de 2003, os quais, por sua exclusiva responsabilidade, fizeram com que o recital metesse água, e de que maneira, senhores!
Note-se, também, que os dois últimos versos são uma adaptação de Os Lusíadas, de Luís de Camões, Canto II, estrofe 47.)

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