quarta-feira, janeiro 31, 2007

Outra espécie de fado

folha branca folha branca
lá me vou eu afogar
naquela angústia tão grande
de quem mal sabe esperar

passei por lugares obscuros
nesta crise dos quarenta
vi-me cercado de muros
sufoquei: bebi magenta

perdi-me de minhas rimas
minhas rimas me perderam
a culpa foi das neblinas
que comigo se entenderam

e quando quis regressar
à folha branca leal
(minha cama? meu altar?
não: é mais o meu estendal)

já só me senti obtuso
muito triste muito trôpego
vi-me como um parafuso
enroscado mas no lodo

e agora sim eu regresso
mas não venho como vinha:
venho com vinho perverso
e zangado com a vidinha

folha branca folha branca
eu cá me vou afogando
numa angústia assim tão branda
de quem só pode ir esperando



(Março 2004)

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